sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Chissano aproveita visita a Braga para exigir «desculpas oficiais» de Portugal por causa da escravatura

No PÚBLICO: "Um pedido de "desculpas oficiais" por parte de alguns países, entre eles, Portugal, que usaram "trabalho escravo", foi o que exigiu ontem, em Braga, o ex-presidente da República de Moçambique. Joaquim Chissano esteve na Universidade do Minho (UM) onde recebeu o Grau de Doutor Honoris Causa em Ciência Política e Relações Internacionais. Na intervenção que efectuou logo após a atribuição do doutoramento e na presença de Jorge Sampaio e de Mário Soares, Chissano frisou que, "até hoje, ainda não se prestou uma verdadeira homenagem aos povos africanos pela contribuição que deram para a acumulação do capital, e, ainda não foram apresentadas desculpas oficiais pelas atrocidades cometidas". Com o título "A globalização e os seus impactos em países como Moçambique", o ex-Presidente daquela país africano relacionou o actual processo de globalização com a criação daquilo a que chamou "economias periféricas" e que, de acordo com o estadista, "começou com o movimento expansionista colonial do século XV e resultou na imposição de uma nova divisão internacional de trabalho, na qual as economias de países colonizados se transformaram em meros produtores de matérias-primas e consumidoras de produtos manufacturados". Destacando sempre a escravatura e a forma como o trabalho escravo foi usado para formar "as actuais grandes potências económicas", Joaquim Chissano salientou que existem "muitos países que, ainda hoje, disfrutam do trabalho produzido pela escravatura. Portugal incluído". A Portugal, o agora Doutor Honoris Causa, acrescentou países como a Inglaterra, a França, Espanha e, "indirectamente", os Estados Unidos. "A escravatura foi horrível e, muitas vezes, passou-se como se tudo tivesse sido um acto normal na vida das pessoas e dos países mas não foi", refere ainda. "África funcionou durante três séculos consecutivos como uma imensa reserva de mão-de-obra para a economia mundial", salienta, estimando que o impacto deste "negócio ignóbil" sobre a população local terá afectado "mais de 50 milhões de pessoas", a maioria delas jovens e economicamente activas. Para que os danos causados pela escravatura possam ser minorados, o ex-Presidente moçambicano exige um pedido de desculpa oficial não só por parte do governo português mas também dos restantes países que o fundador da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) considera terem usado o trabalho escravo. Além das palavras, Chissano quer gestos que auxiliem na criação de uma economia "virada para dentro" já que o país tem ainda recursos "como terra por distribuir pela população", devendo os auxílios económicos externos ser canalizados para a criação de infra-estruturas de apoio ao desenvolvimento rural." [notícia completa]

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