segunda-feira, abril 03, 2006
«És escura, és coisa que não existe»
No Diário de Notícias: "Aquela loja tem em promoção os ténis que queres", disse-lhe uma amiga. A estudante de Direito, na Universidade de Coimbra, não hesitou e foi logo ao centro comercial. Lá estavam, na montra, as sapatilhas. O estabelecimento estava fechado, mas subiu ao andar imediatamente acima, como sugeria o aviso, afixado na vitrina. O proprietário desceu, abriu a porta e entrou com a cliente, para ela avaliar melhor as característica do produto. Maria não tardou a perceber, no entanto, ser pouca a vontade com que estava a ser atendida e reagiu. "Por acaso, não gosto de te atender." Disse ainda o vendedor: "Não vale a pena perder tempo, sai da loja." Ela obedeceu, mas voltou a subir ao quarto andar. Pediu o livro de reclamações. O dono dos dois estabelecimentos recusou e, depois, rejeitou identificar-se. "Esqueci-me do nome, melhor, não te digo o meu nome, nem tenho nada que te dar o livro de reclamações, és escura, és coisa que não existe." "Você é racista", acusou ela. O comerciante mandou-a sair, sob pena de lhe dar "umas bolachas", recorda Maria. Advertindo-a de que "não estava a brincar", o homem insistiu: "Desaparece daqui", "vai fazer queixa a quem quiseres". A jovem guineense já não conseguia conter as lágrimas, mas resistia, na expectativa de que aparecesse alguém que "pudesse testemunhar a cena". Ninguém. "Vou-me embora, mas vou fazer queixa." Saiu da loja, a correr. "As pessoas não me querem aqui", pensava, desejando regressar a Bissau." [reportagem completa]
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