A ditadura de Teodoro Obiang e o desejo de a Guiné Equatorial passar do estatuto de observador associado ao de membro de pleno direito da CPLP foram ontem à noite debatidos em Lisboa por dezenas de pessoas, no Centro InterculturaCidade, dirigido por um activista de movimentos cívicos, Mário Alves.
A partir de uma sugestão do catedrático Eduardo Costa Dias, a antropóloga Yolanda Aixelá Cabré, da Institució Milà i Fontanals, de Barcelona, a sua colega portuguesa Ana Lúcia Sá, João Curvêlo, do ISCTE, e Fernando Sousa, da Amnistia Internacional, partilharam a condução dos trabalhos com o escritor guinéu-equatoriano Juan Tomás Ávila, que já esteve em greve da fome contra a ditadura que há 32 anos é dirigida no seu país por Teodoro Obiang Nguema.
O catedrático alemão Gerhard Seibert e uma série de outros intervenientes alertaram para o contrasenso de a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa admitir no seu seio um país onde este idioma só existe no papel (e não na prática) e onde, ainda por cima, não se respeitam os direitos humanos.
Foi tónica geral de diversas intervenções a de que, ao aceitarem as pretensões de Obiang, países como Angola e o Brasil só estão a pensar na oportunidade de negócio, não se preocupando muito com a corrupção, o centralismo e a falta de liberdade política num território que é rico em petróleo e que já foi uma colónia espanhola, depois de por lá terem andado portugueses.
Tendo em conta que o medo domina na Guiné Equatorial, onde desde a independência, há 42 anos, nunca se soube o que fosse uma democracia, predominou na assistência o receio de que a próxima cimeira da CPLP, em Julho, na cidade de Maputo, oficialize a filiação plena desse país, cujo ditador assim ficaria com mais trunfos na cena internacional para se revestir com um manto de credibilidade.
Em 2008, quando o caso foi apresentado numa cimeira da organização, em Lisboa, vozes tão altas como as de Seibert, do Professor Eduardo Lourenço, de Ana Gomes, de Luísa Teotónio Pereira e da Amnistia Internacional conseguiram fazer com que a candidatura ficasse em suspenso, tal como o ficou depois na conferência de há dois anos em Luanda. Mas teme-se agora que a diplomacia portuguesa, que tanta importância dá à vertente económica, não consiga resistir por mais tempo a toda a força do petróleo de Angola e da Guiné Equatorial.
Cada um deles com 32 anos no poder, Teodoro Obiang e José Eduardo dos Santos, seguidos de perto pelo zimbabweano Robert Mugabe, são os decanos dos autocratas africanos, instituindo-se como protótipos de um estilo de governação que as novas gerações não querem tolerar.
Sem comentários:
Enviar um comentário