DE SAN JOSÉ DE APARTEDÓ À COVA DA MOURA
O segundo dia da IX Mostra de Documentários sobre Direitos Humanos confirmou o interesse da população por esta nova série de projecções centradas na denúncia dos atropelos aos direitos humanos. A assistência já não foi tão grande como a do dia inaugural. Ainda assim compareceram dezenas de pessoas no Centro Cultural Olga Cadaval.
Hasta la Última Piedra, de Juan José Lozano, impressionou a assistência pela determinação da Comunidade de San José de Apartedó, na Colômbia, um conjunto de aldeamentos do interior que declarou a sua neutralidade na guerra civil que lavra no país. Alvo de repetidas acções de militares, paramilitares ou guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, os seus habitantes chegaram a pensar abandoná-los. Mas decidiram ficar em memória dos que, recusando deixar as suas terras, ficaram e foram mortos por uma das facções.
O conjunto de aldeias decretou o seu distanciamento da guerra em Março de 1997. Apesar disso, continuou a ser atacado pelos beligerantes, acusada de esconder simpatias pelo lado oposto. As vítimas foram quase sempre os seus líderes. Mas muitos populares foram igualmente assassinados, incluindo crianças e bebés, alguns deles esquartejados. A todos as população homenageia num monumento que cresce pedra a pedra, cada uma com uma cor diferente e um nome novo.
Apoiada por várias organizações internacionais de direitos humanos, incluindo grupos suíços e espanhóis da Amnistia Internacional, a Comunidade de San José de Apartedó não deixou por isso de ser atacada. Ao tempo do ex-Presidente Alvaro Uribe, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU pediu às autoridades de Bogotá que respeitassem o seu estatuto de neutralidade. O chefe de Estado respondeu prometendo que iria ordenar a abertura de um posto de polícia na zona, mas sugerindo ao mesmo tempo que os habitantes ajudavam os rebeldes.
No debate que se seguiu, o auditório mostrou-se emocionado com a coragem da população em manter uma aposta que aparece a todos os títulos suicida. O documentário termina com camponeses transportando mais pedras pintadas, com o nome das vítimas mais recentes, em direcção ao monumento que San José está a levantar em sua memória, porque, como afirma um dos seus dirigentes, "esquecer a história abre a porta a que ela se repita.
O grupo sintrense da AI manifestou vontade de se ajuntar aos grupos do movimento que lá fora mantêm acesa a solidariedade com a população colombiana sitiada.
A Amnistia Internacional Portugal - Grupo 19 convidou o senhor embaixador da Colômbia em Portugal, Arturo Better,para o debate. O representante colombiano não pôde no entanto participar por motivos de agenda.
Les Arrivants, de Claudine Bories e Patrice Chagnard, foi a quarta projecção da IX Mostra. O documentário, um impressionante testemunho da aflição que espera os candidatos à imigração em França, mexeu, como os filmes anteriores, com a assistência, porquanto, como depois vários intervenientes diriam, lembra as dificuldades outrora dos portugueses noutros países e dos estrangeiros que por diversos motivos procuram hoje o nosso.
Participaram na discussão a seguir do filme Davoud, um encenador iraniano refugiado no nosso países desde 2008, e João de Vasconcelos, jurista do Conselho Português para os Refugiados.
A última exibição da IX Mostra de Documentários sobre Direitos Humanos foi o Ilha da Cova da Moura, de Rui Simões, Menção Honrosa da Amnistia Internacional Portugal no último Indie de Lisboa. Voltou a falar-se em imigrantes, mas agora na perspectiva das comunidades que vivem entre nós e lutam por direitos adquiridos e ainda os relativos à preservação do seu modo de vida na Cova da Moura.
A Amnistia Internacional Portugal - Grupo 19 agradece ao Centro Cultural Olga Cadaval o acolhimento que deu à nona edição das Mostras de documentários anuais desta estrutura operacional da secção portuguesa.
(Resumo em fase de actualização)
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